barra de navegação

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

[Crítica social] Compaixão sem opção.

Recentemente, muito recentemente, ocorreram tragédias e desgraças distintas em dois pontos diferentes do planeta. A primeira fora uma explosão de uma barragem de rejeitos em Mariana, Minas gerais e dias depois um ataque terrorista coordenado em locais separados em Paris. Ambos os ataques repercutidos mundialmente, mantida a proporção de interesse midiático. Ambas com mortes e feridos e danos posteriores (uma a mais longo prazo do que outra) aos incidentes. Ambas com solidarização de pessoas.
Para minha surpresa por conta do que as pessoas estão se ‘batendo’ na internet? Por quem se solidariza pelo quê.

Sinceramente eu não consigo compreender a motivação. Não falo unicamente da motivação de se solidarizar por uma coisa e não por outra (ou menos por outra) e sim de por qual razão alguém iria querer ‘fiscalizar’ a solidariedade alheia. Isto não é nenhum tipo de crime, contravenção ou imoralidade, é puramente atenção, compaixão seletiva, que por sinal exercemos TODOS.
É impossível se comover com tudo. É impossível se compadecer com tudo. Não existe como ‘chorarmos’, sermos empáticos com todas as tragédias do mundo, senão não viveríamos.
 
Sejamos honestos... a verdade recorrente é esta e muitas vezes ela nem é culpa exclusiva nossa. Tendemos a dar mais atenção, a nos preocuparmos, por assim dizer, a nos ‘importarmos’ por aquilo que está em voga. Aquilo que aparece frequentemente, que é mostrado de forma emotiva e alarmante. Claro, estou falando quando não estamos vivendo a presente situação. Estou falando de eventos ruins que ocorrem em relativa distância.

Não há problema puramente nisso. A questão é quem em âmbito geral nós sempre iremos criar prioridades. Para tragédias não é diferente. Além do óbvio apelo e constância nos meios de comunicação, costumamos nos importar com aquilo que é querido, estimado de alguma forma para nós. Humano ou imaterial.

Agora chegamos no momento atual. Duas tragédias causadas pelo homem, por negligência, irracionalidade, egoísmo e ignorância... onde diversas pessoas que absolutamente nada tinham com a “causa” (se existe alguma sombra de justificativa em algum dos casos) se feriram, perderam seus bens ou morreram. Dois eventos calamitosos em lugares distantes um dos outros, comoção e tristeza sendo sentimentos partilhados pelos afetados e as pessoas de fora resolvem tornar um momento que deveria ser de compadecimento, de apoio, de ajuda... em uma briguinha de quinta série para quem se comove por isso ou aquilo. Condenando a opção (leia: seletividade) de fulano se compadecer com uma coisa e não com outra.
O quão hipócrita é este pensamento? Quem faz esse tipo de coisa praticamente se assume como um ‘semi-santo’ ou algo muito puro e elevado querendo impor sobre o que devemos nos comover... só para esquecer que ele mesmo não se comove, e nem nunca irá, para milhares de outras desgraças que muitas vezes são piores estatisticamente, porém que não ganham repercussão. Você faz a mesma coisa que quem você está julgando faz! E não existe algo de errado nisso, pois não temos como dar atenção a tudo! Então pare de querer ser o dono da verdade e cagar regras sobre coisas inúteis e deixem as pessoas terem suas prioridades (sejam elas baseadas no que for...).

Aliás, é exatamente isto: prioridades. O que você individualmente diz ser relevante, importante, visceral ou passível de mais comoção pode ser absolutamente supérfluo ou secundário para outra pessoa. E se estamos falando de sentir compaixão, aí que a visão alheia torna-se inútil para a nossa, uma vez que este é um sentimento puramente originado em nós e nosso para com outrem.
Porra, é tão difícil assim deixar os outros em paz num momento como este? Ou você tem tanta necessidade de que as pessoas pensem e se compadeçam exatamente pelo que você se compadece? Nem parece que você se importa tanto assim com o problema... parece mais que você se importa com QUEM se importa com o problema que você diz que é ‘mais importante’. [Muitas palavras repetidas nesse período.]

Em casos de tragédias como estas eu me reservo ao direito de não exagerar no comprometimento, na ‘solidarização’ porque eu sei que pouco ou nada posso fazer em larga ou até em pequena escala... principalmente em eventos de grande magnitude. Olho a situação de uma forma desprendida e reflexiva para entender melhor as causas e consequências daquilo no âmbito geral, mas não costumo ficar essencialmente triste pelas pessoas afetadas ou consequências. Minha visão é individualista em ponderar que mudanças aquilo trará para a sociedade (e consequentemente para mim), no entanto... isto não quer dizer que eu não seja empático pela situação que as pessoas afetadas estejam passando, eu sou. Só não consigo levar isso “para o coração” porque é muito provável que seja algo que não me afetará diretamente ou algo que eu não tenha admiração, estima ou atenção suficientemente relevante para me levar a isto.
Mas calma, amigo... eu não sou um desalmado. Sei que pessoas sofrem em eventos catastróficos assim. Eu só não consigo deixar que coisas distantes (em relação a familiaridade comigo e não distância geográfica) me afetem a um nível para causar sentimentos como tristeza. Deixo isto para quando algo próximo de mim ocorrer.

(Não se engane! O pensamento acima não me impede de ser altruísta. Não misture as coisas. O fato de eu não deixar isto ‘chegar’ em mim não impede que eu faça algo para ajudar quem precisa.)

As pessoas parecem ter uma necessidade constante de que as outras pessoas sejam exatamente como ela. Isto não é saudável, isto não é a realidade, pois o mundo não é assim. O mundo é feito de diversidade, discordância, visões diferentes ou opostas, etc... até mesmo em momentos de dor similar.

Então que tal pararmos de falar merda e controlar a prioridades dos outros e de fato tentarmos fazer alguma coisa para aliviar ou amenizar o sofrimento de quem está passando por algo ruim, hein?

Nenhum comentário:

Postar um comentário