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terça-feira, 30 de setembro de 2014

[Random] Adeus Orkut, adeus HLBR


É, hoje é dia 30 de Setembro, e é precisamente hoje que o Orkut deixa de existir.

Ora, antes do Facebook existir, e de toda essa distribuição desenfreada de "laiques", timeline agregando os posts dos seus contatos, anúncios entrando no meio e compartilhamento de bebês com câncer num único clique, havia o Orkut. Orkut era legal por causa da novidade. Na época a rede social reinava acima de outras alternativas não tão interessantes. Mas o que fazia do Orkut mais interessante era, principalmente, o conteúdo enviado pelos usuários, e, consequentemente, o humor que derivava disso.

Comunidades hilárias, muitas vezes criadas por mera chacota, mas às vezes com intenções sérias, acabavam fazendo o dia de muita gente (inclusive deste que vos fala). Você entrava nelas só pra compartilhar da mesma piada, e manter aquele humor no seu perfil. Aquela expressão "maldita inclusão digital" ganhou muita força nessa época, já que era comum pessoas irem a lan houses só pra acessar a rede social.

Exemplos são infinitos, estes são alguns que compilei:













Perdoe o potencial elitismo nas minhas palavras, mas tal "inclusão digital" era a diversão dos mais esclarecidos. Enquanto a rede social era povoada por erros gramaticais e o chamado "miguxês" (AkELE DiAlEtU kujAH EsCrItAH Eh BEM IRriTAnti aUxXx OlHuxXx), e todos aqueles emoticons e desenhos feitos com imagens, ou mesmo tentativas frustradas de arte ASCII, a metalinguagem os transformava frequentemente nos memes que hoje são tão conhecidos e utilizados.


O Brasil era forte no Orkut, por causa da sensação de novidade, e daquele costume clássico do brasileiro, de "socializar", e opinar sobre tudo. E tanto que alguns falavam que o Brasil banalizou a coisa toda. E bem, diga-se de passagem, foi bem isso que aconteceu.


Depoimentos, ahhhh, como eu me divertia com eles. Havia aqueles que escreviam aqueles textos padrão, iniciando por "O que falar do Fulano?", com os elogios-clichê e um monte de coraçõezinhos, mas também havia os que preferiam utilizar os depoimentos pra enviar mensagens "secretas" para outros perfis. "NAUM ACEITA" era o pedido desesperado (e ignorado). Hilária era a cruel indiferença do dono do perfil, criando comprometimentos que se estendiam à vida real.

Normal, é típico das pessoas fazerem as coisas por debaixo dos panos, (porque é perigoso mas é divertido). O nosso amigo Orkut apenas deixava isso evidente, garantindo boas risadas.



Os vírus não mudaram muita coisa, desde o tempo do Orkut ainda querem tentar te convencer a mudar a cor do seu perfil. Spambots eram famosos por se espalharem fácil por perfis e comunidades, pois a segurança da rede social era, na época, bastante falha e repleta de vulnerabilidades, e assim, junto à falta de cuidado dos usuários, tinhamos o veículo perfeito para a circulação de worms e exploits de todos os tipos possíveis. Nada muito diferente de hoje, convenhamos. 

E os jogos que rodavam dentro da rede social? Lembra-se do Colheita Feliz? Pois é, nasceu no Orkut, e está aí até hoje: você continua recendo convites para esses joguinhos genéricos que você provavelmente nunca jogará.

Mas enfim, a verdade mesmo é que o Orkut era engraçado, tão banalizado pelos brasileiros e tão cagado de comunidades e posts hilários e sem noção, que funcionou como o prelúdio perfeito para aqueles blogs genéricos de humor e tirinhas com rage faces que nascem como filhotes de coelho internet afora. Virou uma fonte inesgotável de piadas, digamos. Há blogs e sites dedicados somente às bizarrices publicadas pelos usuários, inclusive.

Ficará certamente eternizado como patrimônio da internet.

PS: caso queira fazer backup do seu perfil, incluindo as fotos publicadas, utilize o serviço Take Out, do Google, disponível aqui. Lembre-se de acessar o serviço usando a conta associada a seu perfil no Orkut.




Alias, digo que o Orkut foi o substrato para uma das melhores experiências que vivi na internet, e claro que, com o fim deste, não poderia deixar de mencionar aqui.

Lá por 2008, eu, na minha adolescência tardia, descobri Half-Life 2, um jogo de tiro em primeira pessoa que figurou como um dos primeiros de sua geração. Prontamente procurei por uma comunidade com o tema Half-Life 2 para entrar, e a encontrei. Lá estava a Half-Life 2 BR.

Eu normalmente entrava nas comunidades só mesmo para ficarem associadas a meu perfil, e raramente participava enviando posts e discutindo com o pessoal, mas no caso da HL2 BR (que posteriormente perdeu o '2', "Brasil" virou apenas um acrônimo, e passou a se chamar, de maneira mais abrangente, "Half-Life BR"), me vi num ambiente bem aconchegante pra quebrar esse paradigma, e assim foi, me tornei membro assíduo.
 

Como membro da HLBR, pude experimentar várias facetas sociais que considero muito úteis para minha vida: 
  • senti como era ter o poder nas mãos enquanto era moderador, e como os membros reagiam a isso;
  • conheci gente diferente, com visões e ideologias diferentes;
  • pude encontrar as primeiras oportunidades de refinar minhas ideias, ao ser confrontado com argumentos diferentes dos meus, algo que, para mim, não era habitual antes da vida na internet;
  • tive a chance de ver como o trabalho em equipe funcionava, na prática;
Pude fazer boas amizades nesta comunidade, amizades que mantenho até hoje. Também foi nessa época que surgiu o meu apelido "Coxas", que nasceu de uma piada entre os membros, e acabou ficando até hoje.

Entre conflitos e boas conversas, foi uma experiência que não vou esquecer.


O projeto Antítese, este que você está lendo agora, foi uma iniciativa de amigos remanescentes da HLBR, então, bem, dificilmente teriamos organizado isso sem ela.



Enfim, adeus Orkut, adeus Half-Life BR.
Foi bom enquanto durou.

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