#NaoMerecoSerEstuprada, assim começou o movimento de revolta nas redes sociais após o IPEA, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, um orgão vinculado ao governo federal, divulgar o resultado de sua pesquisa sobre a violência contra a mulher. A mesma sugere, em algumas de suas questões, que a maioria dos entrevistados considera que a roupa da mulher é um convite ao estupro, e que neste caso a violência é justificável.
Um tema sujeito sempre a debates, e mais sujeito ainda à cobertura jornalística. Assim foi. O tema virou a nova pauta do momento, e tomou rapidamente todos os grandes veículos de comunicação existentes. Até aí, tudo bem, divulgação de informação que gera discussão não é exatamente um ato ruim, pelo contrário, pode ser gerar discussões inteligentes e provocar no consumidor da informação a vontade de debater à respeito. Mas é claro que estamos falando do jornalismo de massa, sensacionalista, que coloca em seus destaques títulos chamativos e ambíguos que não refletem exatamente o que querem divulgar.
"65% dos brasileiros acham que mulher de roupa curta merece ser atacada", "Pesquisa do Ipea sobre comportamento da mulher surpreende negativamente", "maioria acredita que mulher tem responsabilidade em casos de estupro, diz IPEA", "Para 58,5%, comportamento feminino influencia estupros, diz pesquisa". Estes são apenas alguns dos vários exemplos que temos por aí. Percebe o quão imprecisos são estes títulos? A primeira interpretação que vem à cabeça é que esta é uma opinião geral, e que a tal pesquisa reflete a opinião brasileira sobre o tema. É evidente que não é.
O que as pessoas se esquecem, frequentemente, é que pesquisas por amostragem são ausentes de precisão, não refletem o pensamento comum, e muito menos servem de argumento para qualquer tipo de discussão, principalmente quando as perguntas são tendenciosas e induzem à respostas específicas, justamente para provocar o que provocou. Mas é aí que o jornalismo desempenha bem o seu papel. Não se pode em sã consciência dar qualquer importância a uma mera pesquisa de opinião, que por si só já é sensacionalista. Sem a divulgação em massa, dobrando ou triplicando o potencial de polêmica, não veriamos o nível de revolta que vemos agora.
A ficha técnica da pesquisa:
Características da população entrevistada (3810 pessoas)
A) Residentes no Sul ou Sudeste (sse): 56,7%
B) Residentes em áreas metropolitanas (metro): 29,1%
C) Pessoas jovens, 16 a 29 anos (jovem): 28,5%
D) Pessoas adultas, 30 a 59 anos: 52,4%
E) Pessoas idosas, 60 ou mais anos (idoso): 19,1%
F) Mulheres (fem): 66,5%
G) Brancos (branco): 38,7%
H) Católicos (cato): 65,7%
I) Evangélicos (evan): 24,7%
J) Demais religiões, ateus e sem religião: 9,6%
K) Menos que o ensino fundamental: 41,5%
L) Ensino fundamental (edufunda): 22,3%
M) Ensino médio (edumedia): 30,8%
N) Ensino superior (edusuper): 5,4%
O) Renda domiciliar per capita média: R$ 531,26
A) Residentes no Sul ou Sudeste (sse): 56,7%
B) Residentes em áreas metropolitanas (metro): 29,1%
C) Pessoas jovens, 16 a 29 anos (jovem): 28,5%
D) Pessoas adultas, 30 a 59 anos: 52,4%
E) Pessoas idosas, 60 ou mais anos (idoso): 19,1%
F) Mulheres (fem): 66,5%
G) Brancos (branco): 38,7%
H) Católicos (cato): 65,7%
I) Evangélicos (evan): 24,7%
J) Demais religiões, ateus e sem religião: 9,6%
K) Menos que o ensino fundamental: 41,5%
L) Ensino fundamental (edufunda): 22,3%
M) Ensino médio (edumedia): 30,8%
N) Ensino superior (edusuper): 5,4%
O) Renda domiciliar per capita média: R$ 531,26
Analisando a ficha técnica, fica ainda mais evidente porque levar em consideração a opinião de menos de 4000 pessoas diante de quase 200 milhões de brasileiros é algo irrelevante. Do item 'A' ao 'O' também vemos como a informação pode ser fragmentada baseado nestas características, que ainda assim são demasiado superficiais para de fato influenciarem nas respostas. Afinal, esta é essencialmente a estrutura padrão de uma pesquisa de opinião: feita por amostragem, abrangendo vários municípios, categorizando entrevistados, e o mais importante: direcionando a opinião pública.
A título de exemplo, lembra-se do referendo de 2005, que coletou a opinião dos brasileiros sobre a proibição do comércio de armas de fogo e munições? A pergunta foi "O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?", cujas respostas eram "Sim" e "Não". Note como a maneira de elaborar as perguntas, usando, por exemplo, estratégias lógicas para fabricação de respostas, podem potencialmente induzir à resposta pretendida pelo organizador da pesquisa. Felizmente não tivemos alterações na lei vigente após este referendo, e este caso refletiu de fato a visão geral do brasileiro em relação ao tema, mas ainda é um bom exemplo de como se pode facilmente direcionar a opinião pública, caso uma dada organização, governamental ou não, assim queira.
Voltando à pesquisa do IPEA, o direcionamento da opinião pública, como podemos ver, funcionou muito bem, pois criou-se um movimento de revolta baseado em informação vinda de dados esparsos, que carecem de precisão, e que não dizem exatamente a verdade. Em suma, uma onda de ódio motivada pela pesquisa, e não por quem a organizou. o IPEA, orgão vinculado, novamente, ao governo federal, por criar pesquisas tendenciosas e de interesse específico, e a mídia sensacionalista, por divulgar informações falsas, é que deveriam ser alvo de protestos.
A título de exemplo, lembra-se do referendo de 2005, que coletou a opinião dos brasileiros sobre a proibição do comércio de armas de fogo e munições? A pergunta foi "O comércio de armas de fogo e munição deve ser proibido no Brasil?", cujas respostas eram "Sim" e "Não". Note como a maneira de elaborar as perguntas, usando, por exemplo, estratégias lógicas para fabricação de respostas, podem potencialmente induzir à resposta pretendida pelo organizador da pesquisa. Felizmente não tivemos alterações na lei vigente após este referendo, e este caso refletiu de fato a visão geral do brasileiro em relação ao tema, mas ainda é um bom exemplo de como se pode facilmente direcionar a opinião pública, caso uma dada organização, governamental ou não, assim queira.
Voltando à pesquisa do IPEA, o direcionamento da opinião pública, como podemos ver, funcionou muito bem, pois criou-se um movimento de revolta baseado em informação vinda de dados esparsos, que carecem de precisão, e que não dizem exatamente a verdade. Em suma, uma onda de ódio motivada pela pesquisa, e não por quem a organizou. o IPEA, orgão vinculado, novamente, ao governo federal, por criar pesquisas tendenciosas e de interesse específico, e a mídia sensacionalista, por divulgar informações falsas, é que deveriam ser alvo de protestos.
Não há dúvidas sobre o quão horrendo é afirmar que o estupro, uma forma de violência extremamente cruel e que pode potencialmente deixar sequelas psicológicas irreparáveis, pode ser justificado de alguma maneira, e nada no mundo pode justificar qualquer tipo de violência, seja ela física ou psicológica. Entretanto, dar qualquer importância a informações produzidas sem qualquer refino, e sem qualquer segurança sobre sua fonte, é no mínimo estupidez.
Sejamos racionais, o verdadeiro inimigo da sociedade não é quem respondeu à essa pesquisa, mas quem a conduziu e quem a elevou ao status em que está.
Sejamos racionais, o verdadeiro inimigo da sociedade não é quem respondeu à essa pesquisa, mas quem a conduziu e quem a elevou ao status em que está.
Eu tenho uma opinião bem simples e breve sobre isso. Violência sexual é um risco que corremos assim como corremos o risco de ser assaltadas. O estupro se ocorrer, ocorre independente do traje da mulher. Ocorre por pessoas com distúrbios psicológicos e sexuais e também ocorre por conta de assaltos e sequestros. Quanto a minha roupa, essa nunca vai ser o convite do estupro. Aliás, a roupa é o que menos reparam. E quanto a pesquisa, eu simplesmente ignoro a opinião manipulada ou o que quer que seja dessas pessoas. Elas nunca vão ser o problema da questão do estupro no Brasil.
ResponderExcluirÉ exatamente o que eu disse no meu post. É uma série de fatores.. amostragem falha, desvio padrão mal considerado, tendenciosidade da pesquisa, má credibilidade do instituto, manchetes impensadas.. tudo isso leva a movimentos de ideias bonitas porém imaturas. Não merece ser estuprada? Claro que não, quem merece?
ResponderExcluirEu entendo que é um assunto sensível pra qualquer mulher, mas a repercussão de uma pesquisa tão irrelevante chega a assustar.