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segunda-feira, 28 de abril de 2014

[Reflexão] Mas é só minha opinião!

Opinião é um maneira verbal de expressar o seu pensamento particular e individual sobre um dado assunto. As pessoas estão o tempo todo emitindo suas opiniões, e com razão: opiniões são importantes em sociedades democráticas, onde a vontade de cada membro do grupo é levada em consideração na decisão final sobre qualquer ato que vá afetar a sociedade inteira, influenciando diretamente seus membros. O ponto de vista é uma característica diretamente ligada à opinião pessoal de cada um, de modo que ao expressar sua opinião, a pessoa também demonstra o seu ponto de vista, dado o alvo de sua opinião.


Mas a opinião também é uma faca de dois gumes. O brasileiro, por exemplo, costuma ter "opinião formada sobre tudo", e isso fica evidente em qualquer pesquisa popular que vemos em programas de televisão. Não importa o assunto, sempre existe uma opinião (pronta, ou montada na hora) no momento do questionamento. O achismo (segundo o dicionário Michaelis, "tendência em avaliar as situações segundo as próprias opiniões ou intenções, muitas vezes sem justificação") é quase sempre intrínseco a tais opiniões, e isso torna o ato, de emitir uma opinião, ambíguo e duvidoso.

Vemos que as redes sociais tornam isso ainda mais evidente: muitas opiniões, sobre tudo, sobre todos, uma maneira universal de se expressar em relação ao mundo. Bem, aí começamos a ter bons motivos para questionar o dito "na minha opinião". Opiniões, por si só, não têm validade lógica, a não ser que se baseiem em um conhecimento previamente adquirido e sejam uma interpretação possível sobre um dado assunto. Não é possível alguém simplesmente afirmar que, "na sua opinião", o homem nunca pisou na Lua, quando existem dezenas de registros em vídeo, documentos, e outras evidência que indicam que tal evento realmente ocorreu.

Opinião vem quase sempre acompanhada de emoção, mas pouca razão, com a emoção representada pelos sentimentos, a razão pelos conhecimentos, por isso intrínseca ao achismo, que anula qualquer precisão que o locutor pretendia dar à sua expressão verbal. Opiniões, como meros conceitos, presunções e juízos alheios à fundamentação, são instrumentos perigosos quando colocadas em situações como um referendo. Não poderia deixar de exemplificar usando o referendo do desarmamento, que levou os brasileiros às urnas para decidir se o comércio de armas de fogo no país deveria ou não ser proibido.

O questionamento sobre a violência em relação à posse de armas de fogo frequentemente levanta o repúdio à elas, com a justificativa de que são causadoras de mortes muito mais do que supressoras de mortes, referindo-nos aos inocentes, não criminosos. Na época isso ficou bastante evidente. Pouca importância foi dada a estudos feitos sobre o assunto.

Nesse ponto, as emissoras de televisão mostraram o seu papel transformador de opiniões. Bem, a opinião, por si só, não é confiável. Quando ela é, de algum modo e por algum interesse particular, direcionada, passa a ser menos confiável ainda. Em um sistema de governo democrático, a opinião do cidadão é, invariavelmente, parte da vontade pública, e se ela puder ser usada como combustível para interesses alheios aos da população, temos uma excelente arma que a pessoa pode disparar, e ser atingida pelo próprio disparo.


Formadores de opinião são aqueles com pensamento (geralmente) fundamentado que moldam o pensamento não fundamentado, mas muitas vezes as duas coisas se misturam em um só indivíduo: uma opinião pode servir de base para outra opinião. Desde que estamos falando de uma reação em cadeia, isso é equivalente a propagar a imprecisão e a falta de conhecimento através deste instrumento.

Por mais que, em raras exceções, a opinião esteja de fato fundamentada, ainda é puramente pessoal e representa muito mais o sentimento que o conhecimento, algo que não é confiável e não deve ser levado a sério.

Então, da próxima vez que alguém tentar argumentar iniciando com a frase "na minha opinião" ou "eu acho que", ou terminá-la com "mas é somente minha opinião", seja racional e duvide da credibilidade de tal argumento.

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