Era o aniversário de três milênios do guardião do mar dos
fundos.
Um guardião normal... Meio velho, enrugado, de barbas e
cabelos brancos, sempre com um macacão jeans e aquela foice grande e
assustadora na mão.
Ninguém comemorava o aniversário do guardião, apenas as
crianças sentavam em meio círculo para ouvir as histórias sobre os monstros das
profundezas do mar dos fundos e como nenhum deles jamais conseguiu passar vivo
por ele e entrar na casa grande.
A casa grande era um lar, uma casa com vários cômodos e
várias cores. Lá moravam aproximadamente 36 pessoas, alguns arquitetos,
jornalistas, médicos, desempregados, etc; alguns jovens apaixonados e outros
revoltados; algumas crianças levadas e outras mimadas e quietinhas.
Engraçado pensar que o que separava dois universos tão
diferentes eram apenas um degrau com um velho sentado e um mar de águas escuras,
águas escuras e criaturas ruins. Criaturas que trocariam as vidas dos seus para
destruir a vida dos demais.
Não passava das cinco da tarde quando as histórias acabaram
e as crianças enjoaram de ficar sentadas e foram para o jardim. O guardião
estava ali sozinho e pensativo, ninguém se atrevia a perguntar sobre o que ele
pensava e se perguntassem, ficariam sem resposta.
Nem ele mesmo sabia direito sobre o que estava pensando. São
três milênios ali parado, convivendo com pessoas que o amavam e que ele também
amava. É tempo demais... É muito tempo.
Foram as últimas palavras que passaram por sua mente
enquanto ele se distraia com uma linda borboleta azul que passava por ali. Ele
a olhava sem realmente ver. “São muitos anos.”
_____
Ninguém soube muito bem porque ele morreu de uma forma tão
tola. Ele é atento dia e noite e uma borboleta o fez tirar os olhos do mar dos
fundos e ficar vulnerável por alguns minutos. Tempo suficiente para que algo
cortante saísse de dentro das águas escuras e o dividisse em dois...
Nenhum comentário:
Postar um comentário