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sexta-feira, 14 de março de 2014

[Reflexão] Por que a harmonia vem da dissonância

A espinha dorsal da vida em sociedade é formada por diversas normas, não documentadas, mas rigorosamente seguidas, que visam manter a ordem e a paz nos meios sociais. Tais normas garantem que humanos possam conviver em seu dia-a-dia da maneira mais agradável possível. E, justamente, uma das regras sociais padrão mais importantes em todos os círculos pessoais, seja famílias, ambientes corporativos, turmas em escolas, grupos de debates, enfim, é que se deve evitar o surgimento de conflitos que violem essa harmonia.

Somos educados desde cedo a evitar aplicar técnicas que levem possivelmente ao conflito, por exemplo o questionamento, a contra-argumentação, o uso da lógica, etc. Uma pessoa com comportamento padrão provavelmente deve achar que esta é a situação ideal, já que uma vez instaurado o conflito, podem resultar dele características que separam seres humanos ao invés de manter a liga entre eles, como mágoa, richas, e outras do gênero.

O debate não é exatamente uma atividade estimulada na nossa sociedade, sempre evitado com o temor do surgimento do conflito. Entretanto, não teriamos harmonia sem que existissem dissonâncias.

O aperfeiçoamento de ideias através do conflito.


Sabemos que fatos nascem a partir de teorias. Um fato não é exatamente uma verdade pura e absoluta, mas é a concepção mais próxima da verdade que se tem em um dado momento sobre um dado assunto. Teorias fazem-se de ideias, não apenas de ideias, mas do conflito entre elas. Diversas descobertas científicas puderam tomar parte na Ciência, por causa de conflitos entre diferentes teorias.

A discussão sobre o formato do nosso planeta e do Sistema Solar é um exemplo clássico disto. Diversas ideais foram apresentadas, com a Terra sendo plana, sendo o centro do Universo, com o Sol a orbitando, enfim. Todas essas visões individuais foram colocadas frente a frente para resultarem em uma visão geral de maior precisão, e cada vez mais próxima da verdade. Assim chegou-se ao conhecimento que temos hoje sobre os planetas e os sistemas estelares no Universo.
 

Não pode haver consenso sem conflito, ou o debate, o embate entre ideias diferentes. Evitamos muito nos aproximar da melhor solução para os problemas que enfrentamos porque não gostamos de gerar, participar, ou alimentar conflitos, e essa é, portanto, uma ideia difundidade e suportada por todos os grandes defensores da "paz em sociedade".

Entretanto, se essa paz não é resultante de um debate, numa guerra onde as armas são as ideias, então ela não é verdadeira, e o pior de tudo: serve como a melhor desculpa para nos afastarmos da verdade, o que acaba nos forçando a resolver os problemas de maneiras inadequadas, solidificando as amarras que tendem a nos prender à zona de conforto.

Por que conflitos são importantes

Não se deve desestimular o conflito porque é a partir dele que o conhecimento real aflora. Verdades individuais são sempre relativas ao ponto de vista individual, mas se forem colocadas em um embate, podem criar outras verdades mais próximas de uma verdade hipoteticamente universal, mas universalmente ideal.

Desde que somos seres vivos organicamente dependentes da vida social, dependemos integralmente do conflito para aperfeiçoarmos nosso comportamento social, para assim melhor lidar com nossos problemas, sejam eles pertinentes à raça humana, a nosso planeta, ou a qualquer outro escopo.

Se temos tantos cérebros disponíveis, sendo o cérebro humano um incrível orgão que não somente nos permite raciocinar, mas também questionar o que entra por nossos ouvidos, por que pensar de uma maneira padrão, quando se pode criar inúmeras interpretações em cima de um único conceito, não é?

Não deixe que a zona de conforto te impeça de entrar em conflito, porque ele é necessário para o desenvolvimento e o progresso da nossa gente. Debata, discuta, questione, não aceite tudo o que lhe for determinado, porque a maior qualidade humana é a dúvida.

Devemos, afinal, a harmonia à dissonância.

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