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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

[Opinião] Analisando os "rolezinhos"

2014 nem bem começou, e já temos uma nova discussão sócio-econômica resultante da mais nova moda dos jovens brasileiros. Afinal, que porra são esses "rolezinhos"?
 

Trata-se de um evento comum na vida de qualquer jovem, ir ao shopping, ou qualquer centro comercial de grande porte, com a diferença deste envolver muita, MUITA gente. A idéia é "dar um rolé" com um grupo imenso de pessoas em espaços comerciais públicos. Tais eventos são combinados através de redes sociais, e no dia, horário e local marcados, todo o grupo comparece para exercer sua cultura, que vai de música ao vivo com DJs a tumultos e furtos em massa.

É claro que esse tipo de coisa veio para cutucar, e deixar muita gente incomodada. E foi isso que aconteceu: criou-se uma discussão acerca do direito, ou não-direito, de comparecer a este tipo de evento. De um lado, frequentadores de shoppings, dentre eles clientes e comerciantes, querem a todo custo proibir a realização dos mesmos. Do outro, os "rolezeiros", que não vêem nada de mais em juntar sua galera pra um encontro em massa em locais de grande circulação de pessoas. Há ainda um terceiro, e obtuso, lado, que inclue os apoiadores dos "rolezeiros", que protestam pelo direito de ir e vir e pelo fim da descriminação sócio-econômica da qual dizem ser os "rolezeiros" vítimas, implicando que impedir tais eventos é violar uma série de premissas para uma sociedade igualitária.

Dentre as queixas dos comerciantes, há em evidência os furtos em massa. Evidente que um grande número de pessoas se deslocando por espaços minúsculos pode no mínimo provocar desconforto aos demais. Eventualmente essa sensação de desconforto evolui para uma confusão generalizada, e no meio do tumulto, como de prache, algumas ovelhas negras surgem de dentro do rebanho pra praticar atos cuja responsabilidade é atribuída ao grupo inteiro. Diversas vezes tais grupos foram acusados de promoverem "arrastões" (nome dado ao ato de roubos e assaltos em grupo) em lojas, e se formos pensar bem, isso sempre acontece, não importando o quão inocente seja a intenção do grupo, uma parte, ou ele inteiro, em um dado momento, sempre fará algum tipo de cagada.

O ato de ocupar espaços públicos dificultando ou mesmo impedindo que pessoas alheias possam circular com facilidade já é um ato questionável, usá-lo como meio pra praticar crimes, mais ainda.

Em vista de tal perigo, centros comerciais começaram a se proteger contra esses encontros. Isso foi o suficiente para acender a chama da justiça nos corações dos defensores das pessoas humildes e economicamente desfavorecidas, que passaram a
denominar tal ato repressivo de "apartheid social", considerando a proibição da realização de rolezinhos como um ato anti-democrático, segregacionista e moralmente questionável.

Dentre as justificativas sociais, econômicas e raciais, a questão mais citada é o direito, garantido pela constituição, de ir e vir. De fato, é o que diz nossa constituição. Em parte existe razão no argumento destes defensores. Mas é bom lembrar que o direito de um termina onde começa o direito do outro. Não se pode permitir que um grupo social/econômico ou raça possa sobrepôr os direitos de outros grupos só porque tais grupos e raças são apontadas como inocentes vítimas do sistema, é incoerente exigir que se faça valer o direito de um lado, ignorando o outro. E é mais incoerente ainda comparar tal ato ao apartheid, que foi uma política segregacionista com força de lei aplicada a cidadãos individualmente, algo que é bem diferente da situação que vivemos neste momento, afinal a proibição é direcionada a reuniões de pessoas, não a classes de pessoas.

Teriamos de fato um apartheid, racial ou social, se a legislação de uma hora para outra resolve-se que estabelecimentos comerciais pudessem, com o respaldo da lei, barrar em suas instalações a entrada de negros e pobres. Shopping centers, centros comerciais, tais lugares são de acesso público, mas são propriedades privadas que podem determinar suas próprias regras, como impedir a entrada de animais, proibir o uso de telefones celulares ou proibir o ato de fumar. É simplesmente um código de conduta interna para aqueles que desejam usar o espaço: se pretende utilizá-lo, deve obedecer.


Além do uso fatídico do evento como oportunidade para roubos, muita gente reunida em espaços enclausurados dificulta ou bloqueia a passagem das pessoas, gera barulho desnecessário e impede que os demais se sintam confortáveis, isso sem falar no ato de gerar tumulto e destruir patrimônio privado.

Alguns vão dizer "Ah, se fosse jovem, branco e riquinho, com roupinha e tênis de marca ninguém ia ligar". É evidente que não é o caso. Pouco importa que roupas ou que de que cor são as pessoas que organizam e se encontram em rolezinhos, o que está se questionando são os delitos cometidos dentro ou através dos mesmos e a bilateralidade do direito de ir e vir.

Comparar isso com apartheid e organizar manifestações contra segregações sociais/raciais/econômicas motivadas por isso é no mínimo uma tentativa de aparecer na mídia ou coisa do gênero.

Para concluir: jovens, façam seus rolezinhos, mas dentro da lei, por favor.

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