Recentemente um determinado evento tomou os veículos de informação e se tornou rapidamente uma das principais manchetes de todos os portais de notícias existentes na web.
Me refiro ao Instituto Royal, às denúncias de maus tratos, e à ação de ativistas pelos direitos dos animais ao invadir o laboratório com o objetivo de salvar os cães que ali estavam.
Me refiro ao Instituto Royal, às denúncias de maus tratos, e à ação de ativistas pelos direitos dos animais ao invadir o laboratório com o objetivo de salvar os cães que ali estavam.
Rapidamente isso se espalhou viralmente pelas redes sociais, provocando ondas e ondas e comoção, pedidos de explicação sobre o que o instituto de fato fazia com os animais, clamor por justiça, e repúdio pela indústria de produtos estéticos (ramo do instituto).
Após denúncias no Ministério Público aparentemente resultarem em, de acordo com os ativistas, indiferença e inflexibilidade para um diálogo entre as partes, eles resolveram entrar à força no instituto e libertar os cães, usados como cobaias nas pesquisas do lugar, até serem impedidos pelas forças policiais.
Todos sabemos que os direitos dos animais devem ser respeitados, como seres pensantes e responsáveis pelo mundo em que pisamos, e podemos inferir que o ato representou o desespero e a impaciência dos ativistas, que esperavam ter cumprida a sua causa, o que é uma atitude louvável e de grande relevância, mas é preciso deixar um pouco a emoção de lado, e nos atermos aos fatos de maneira racional.
Como já mencionado, haviam denúncias no Ministério Público por suspeita de maus tratos contra os animais utilizados no instituto, algo que de fato é crime previsto em lei. É aí que encontramos o primeiro erro. Existem instrumentos legais com o poder suficiente para pedir e exigir explicações quando existe uma suspeita, e essa ferramenta não foi utilizada, e pior ainda, ignorada no momento em que eles invadiram o instituto porque simplesmente sentiam que havia algo errado no lugar.
Fazer justiça com as próprias mãos definitivamente não funciona. Se a luta é pelos direitos de outrem, seja ele um animal racional ou irracional, ignorar os direitos de alguém em favor dos direitos de outrem não faz o menor sentido. Não existiam provas concretas de que de fato o instituto estava praticando crimes ambientais, e a possibilidade de alguma delas surgir foi totalmente anulada quando o laboratório foi destruído pelos ativistas.
Resolveram não esperar o Ministério Público finalizar sua investigação, e agiram por conta própria, pedindo justiça, mas passando por cima de leis fundamentais para a manutenção desta mesma justiça. Se o instituto é criminoso por maltratar, os ativistas agora são criminosos por invadir propriedade privada, destruir e vandalizar o interior do prédio, e por "roubar" os cães. Eles pretendiam denunciar uma injustiça que ninguém conseguia enxergar, mas não se preocuparam muito em agir com justiça, deixando que o impulso os levassem até onde os levou.
Sim, foi impulso, porque, como mencionado acima, não havia como comprovar que os animais eram mesmo maltratados. Todo o ato foi levado em frente por puro achismo, não haviam fotos, vídeos, depoimentos, nem nada que comprovasse o que eles denunciavam. Destruíram o laboratório e levaram os cães porque simplesmente achavam que estavam fazendo justiça. O achar foi seu segundo erro.
É nesse momento que a emoção obscurece o julgamento. Enquanto estavam acampados em frente ao instituto, os ativistas exerciam seu direito de ir e vir, sem interfir, mas quando os ânimos se exaltaram, e a emoção se sobrepôs à razão, todo pensamento foi ignorado em favor de uma mera possibilidade. Isso foi provocado pela informação de que os cães seriam sacrificados na madrugada do dia em que a invasão ocorreu. Se eu achar que determinada pessoa merece morrer por ser cruel, então vou matá-la? É claro que não. Nenhum ser humano em sã consciência faria isso. É uma analogia grosseira, mas foi essa mesma lógica que os ativistas seguiram.
E feito o que fizeram, ataram as mãos dos dispositivos legais, impossibilitando qualquer investigação precisa da conduta do instituto. Não há mais o que denunciar. A palavra dos ativistas ficará eternamente contra a do instituto, e o Ministério Público agora terá dificuldades para averiguar quem tem razão.
Os cães em liberdade, ao ambiente externo, podem não representar uma grande ameaça a outras espécies, caninas ou não, mas imagine que esses mesmos ativistas comecem a fazer o mesmo com ratos, coelhos, insetos e outros animais que podem produzir superpopulações se não houver uma forma de controlar sua natalidade. Os animais usados em testes de laboratórios passam por diversas modificações, muitas vezes no nível genético. Soltar esses animais na natureza pode provocar graves desequilíbrios na fauna e atrapalhar o árduo trabalho que a natureza tem de se adaptar às agressões naturalmente provocadas por nós.
No filme "28 Days Later" ("Extermínio", no Brasil), que trata de um apocalipse zumbi, o surto de um vírus desconhecido começa quando um grupo de ativistas resolve libertar chimpanzés isolados e infectados com o tal vírus. Graças a esse ato, o vírus deixou as redomas que o isolavam do mundo exterior, e infectou toda a população em questão de dias.
Claro, é uma catástrofe bastante improvável no mundo real, mas a idéia é a mesma. Muitas vezes ao tentar salvar o planeta, potencialmente existirá uma consequência grave que será ignorada pelos ativistas, não apenas no escopo judiciário, mas no escopo ambiental. É um erro grave agir sem pensar, não importa se estamos na realidade, ou na ficção.
Mas o que eu custo a entender, é por que eu não vejo esses mesmos ativistas cuidando de causas menores, por exemplo resgatando cães abandonados nas ruas, facilitando sua adoção, ou realmente tomando parte na justiça brasileira em favor da luta que dizem lutar, seja como expectadores ativos, ou como membros da política do Brasil? São raríssimos os casos de deputados que propõe leis favoráveis aos direitos dos animais. Por que não colocar uma pessoa para representar esse interesse diante do governo? Por que não participar de todas as frentes dessa luta? Por que chamar atenção da maneira mais inadequada possível?
Lutar pelo bem-estar dos animais é usar os instrumentos legais para se fazer cumprir os direitos destes animais, não aparecer diante de uma câmera com um cão nos braços aos prantos fazendo acusações aleatórias sem ter como comprová-las.
Não há como chamar isso de ativismo. Infelizmente, está mais para att-ivismo, se é que me entende.
Dani, apesar de ficar com o coração na mão e de fato ter apoiado ao "resgate" dos bichinhos, de fato você tem toda razão quando diz que agiram impulsivamente, sem deixar uma oportunidade pra uma explicação plausível do que poderia estar acontecendo. E o pior de tudo, é que é realmente difícil entender a cabeça desses tão ativistas assim. Já que se mobilizaram, conseguiram carros, lugares pra abrigarr os cães e tudo mais pra esses bichinhos sem esperança (digo isso devido a condição que eles tavam vivendo lá, não era nada boa)... Mas por que em especial o Instituto Royal? Ou então, se sim ao resgate do Instituto Royal, será que essas pessoas se preocupam com o resgate dos cães de rua? Que sofrem tanto quanto ou até mais que um cachorro num laboratório daquele?
ResponderExcluirIsso é difícil de entender. Como se conseguissem comover as pessoas com aqueles beagles, mas esquecendo dos inúmeros vira latas que você pode resgatar e criar uma organização com tantas pessoas dispostas a ajudar animais, como apareçam no instituto royal.
Bem, eu sempre vou ser a favor da natureza, dos animais, principalmente eu sendo uma estudante de Ciencia Ambiental, mas eu tenho que ser racional também, porque vc sendo irracional e incoerente, vc nunca vai conseguir salvar o mundo.