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quarta-feira, 14 de agosto de 2013

[Reflexão] Homossexualidade: o argumento de 'Deus'

Há poucos dias estive num certo debate. Debate este que tratava de preconceitos e estereótipos (no geral).
Não inesperado, surgiu o tema da homossexualidade. Previsível, assim como algumas opiniões sobre o mesmo, tendo em vista a recorrência e foco [na mídia] sobre o assunto.

Falam dali, rebatem de lá. Discordâncias, litígios, exaltações, etc. Tudo muito do mesmo e de sempre. Não estou desmerecendo o debate, totalmente pelo contrário. Acho válido e uma das formas mais interessantes e úteis de se discutir e aprender com seus semelhantes. Ainda que alguns não mudem de ideia sobre um determinado tema. Claro, desde que mantenha-se uma discussão sadia.
Tal ‘troca de pensamentos’ me levou a escrever este breve texto onde quero lhe convidar a analisar um aspecto um pouco tímido ou deveria dizer, um aspecto que não é tão usado em discussões sobre o tema.

É sabido que as religiões cristãs, principalmente, são amplas e quase absolutamente antagonistas ao que diz respeito ao comportamento homoafetivo. A posição da Igreja é taxativa e condenatória: ‘homossexualidade é errada e quem a pratica está em desacordo com os princípios da religião e com Deus’. Não se atendo aqui a questão de em que escritos ou dogmas (ou “ordens divinas”) a homoafetividade é condenada... quero pôr em linhas gerais que esta é a opinião da Igreja.

Pois bem... esta mesma Igreja preza de forma ímpar e veemente pela Caridade, isto é, o Amor. Preza e incentiva, aconselha, demanda que tenhamos e difundamos o Amor para com todos. O Amor a Deus e o Amor ao próximo.
Ótimo! Apoio e acho corretíssimo que se ‘pregue’ o Amor, pois ele pode (e deve) ser o primeiro passo para compreensão mútua e extinção de discórdias e diferenças ou até mesmo de conflitos inférteis.

A ter isto como referência eu me ponho intrigado com a posição sumária da Igreja sobre a homoafetividade.
Ela é condenada por ser tida como “errada” ou “anti-natural”. Ainda também como concupiscência ou lascívia exacerbada1 (que também é condenada pela Igreja) mesmo que uma coisa não implique NADA com a outra. Uma pessoa pode ser homossexual e não ter um comportamento sexual constante e expositivo.
Mas voltando ao meu questionamento e “dúvida”... façamos o ordenamento. I-A Igreja possui um posicionamento contrário a ideia de pessoas do mesmo sexo se relacionarem afetiva e sexualmente. II-A Igreja apoia, ‘divulga’, determina, aconselha, incentiva, enfim, endossa o Amor a Deus e a todos. Eu não sei vocês, porém eu vejo uma certa inconsistência nisso.

Você pode (tentar) defender o ponto de vista da Igreja... mas minha pergunta será inevitável.
Se a Igreja preza e defende tanto a propagação do Amor por que razão a homoafetividade seria condenada? Eu tenho plena ciência da doutrina que é transmitida pela Igreja. Tanto que eu mesmo a supracitei no princípio do texto e é justamente ela que conflita com a outra doutrina que apresentei.

Isto faz a posição (sobre uma das duas que apresentei) da Igreja estar em uma verdadeira ‘sinuca de bico’. É simples.
- Se o Amor é à base de tudo e a virtude maior e racional e real e própria de Deus, então não há sentido em alguém que demonstre/exerça a homoafetividade ser anátema, já que, ela está PRATICANDO e aplicando uma característica do Deus supremo em sua e na vida de outra (ou outras) pessoas. Pessoas mais radicais podem proferir que os homossexuais não Amam “de verdade” ou que “não tem como saber se é Amor”. Em ambos os casos só a falácia do escocês já derrubaria a contrariedade, mas também pode se derrubar estes argumentos de araque de outra forma. Este não é meu ponto.
-Por outro lado, se a divergência de que a homoafetividade é errada perdurar e for considerada errada MESMO sendo em si o Amor entre duas pessoas, então todo o papo sobre o Amor que é fundamentado e recomendado pela Igreja não passa de balela pura. Você diz que o Amor é uma virtude de Deus, porém quando são pessoas do mesmo sexo isto não pode existir. Que sentido isso faz? Desculpem-me, mas não vejo lógica nisto... ainda mais partindo de um ser supremo como o próprio Altíssimo. Seria contradição demais para uma “entidade magnânima e perfeita em sua infinitude”.

As pessoas devem Amar as outras. Devem Amar ao seu próximo, devem ter a caridade, pois esta é uma característica e vontade do Divino e não podem se Amar de uma certa forma? Você pode Amar seu irmão e sua família, Amor fraternal. Você pode Amar seu namorado(a), noivo(a), esposo(a). Amor eros. Legal, ok.
Aí você vai e obtém inclinação, um Amor, para com o seu semelhante. Semelhante que tem o mesmo sexo que você, mas você não pode Amá-lo como um casal, como um namorado, pois o Deus do Amor Ágape não permite ou considera o seu Amor como não genuíno ou digno.

É irracional limitar a forma de expressão das pessoas e mais irracional ainda limitar a forma de expressão de um mandamento que você mesmo criou e/ou ordenou. Pois o que importa é praticá-lo! Fazê-lo existir! Propagá-lo... impor barreiras é nada mais que não querer o que você proferiu. É não praticar o que você prega.

Se o Deus idealizado pelo Cristianismo, ou ainda qualquer Deus de qualquer religião, for de fato contra a união, convívio, relação... Amor entre pessoas do mesmo sexo... sinto informar, mas este deus não é nada além de um infantil preconceituoso e não praticante do Amor que ele ~teoricamente~ prega.


1-Coisa que também é condenada pela Igreja... ainda que a mesma apoie a reprodução. Apoia a reprodução, porém limita o momento em que ela é exercida? Isto é contradizer o próprio argumento... No instante que você põe barreiras para algo você está dificultando a execução daquilo e pra que você faria tal coisa se este é um dos objetivos que você defende? O mesmo que acabei de tratar pouco antes do final do texto.

3 comentários:

  1. Não é o primeiro artigo desse tipo que vejo na internet. :P

    O conceito desse tipo de texto geralmente parte do preceito de que Deus não ama homossexuais. Isso é errado. Deus ama a todos, independente do quão "errado" você esteja em relação à suas Escrituras. Já ouviu falar no "não concordo contigo mas gosto de você mesmo assim"? Tipo, é meio chato eu ter amizade com alguém cujas atitudes e pensamentos não são iguais as minhas, porém nada me impede, e poxa, até ajuda a me desenvolver como alguém de mente aberta.

    O que acontece é que a Bíblia, a palavra de Deus, vai contra o homossexualismo EM SI, e não o homossexual. Em Romanos capítulo 1, versículos 26 e 27, é dito o seguinte:

    "Por isso Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os homens, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, homens com homens, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha ao seu erro."

    Vale bem lembrar que a "recompensa" mencionada aqui não significa AH VOCÊ VAI PRO INFERNO, e sim que coisas ruins podem acontecer na sua vida, pois mesmo Deus te amando, você já está indo para fora da sua, permita-me o coloquialismo, "nuvem de bênção" e se colocando à dispor das más intenções do mundo lá fora.

    Isso não viabiliza qualquer tipo de preconceito e desgosto contra homossexuais, pois afinal o que se vai contra é o ATO, e não quem o pratica. :)

    Talvez você não tenha entendido bem o que Deus havia dito "amar os outros como seu próximo". Significa você se preocupar, se envolver, ser amigo daquela pessoa independente de quem for e no que ela acredita. Agora, quando se trata de um amor que vai virar, ou é um matrimônio, já entra em outro assunto.

    Se achou que algo que eu escrevi não ficou claro, responda by all means. :)

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    1. SK, eu sei muito bem que, segundo os cristãos, Deus ama os homosexuais mesmo não endossando a prática deles. Isto é evidente no que se refere a conduta ou doutrina. Apesar de infelizmente não ser sempre isto que acontece... variando de pessoa para pessoa.

      Ok, entendo. Mas se você for tomar por esse espectro de que "coisas ruins podem acontecer" você vai ver que isto é aplicável a qualquer momento, situação ou conduta, ainda que efêmera. Ou até mesmo arbitrariamente. Se Deus 'resolver um dia' que quer que você tenha gripe, você VAI ter gripe mesmo sendo um santo. Sei que a exemplificação foi forçada, mas tentei elaborar um paralelo que não fosse do tipo de "ir para o fogo".

      Aí que acho isto uma tremenda duma inconsistência. A pessoa de Deus não é contra quem pratica, porém é contra o ato. Vai dar na mesma! Ele vai estar privando de qualquer forma de se SER homossexual. O mesmo seria se fosse contra os praticantes e não fosse contra o ato em si. Não tem sentido, ao passo de que ambas as coisas se interconectam. (Privando aqui que eu falo não no sentido de proibir, porém de desaprovar.)

      Não vejo possibilidade de haver senso na ideia de que você tem que Amar as pessoas e não pode Amá-la de uma certa forma, pois é desagradável aos olhos de quem "o fez". Foi o que falei... é como negar/dificultar o que você diligencia.

      Sobre o adendo... tenho ciência que a igreja não condena, ao menos não taxativamente. Todavia... não sei se aonde ou na igreja que frequentas é assim, porém praticamente todas em que fui em minha mocidade foram bem ríspidos com esse assunto.

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  2. Ah, um addendum sobre sexo antes do casamento:

    Isso não é algo que a Igreja e nem Deus "condena", mas assim como dito sobre a homossexualidade ali em cima, não é algo bem-visto aos olhos de Deus. Acontece que esse ato é considerado uma "aliança", entre duas pessoas que se juraram amar até a morte. Nada impede essas duas pessoas de cometer esse ato antes de se casarem, porém isso geralmente não causa bons resultados no final. Por isso o sexo antes do casamento é apenas aconselhado contra, não condenado.

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