[Opinião] Não é só pelos 20 centavos

 

É pela justiça por 500 anos de indiferença.

O povo brasileiro nunca foi muito patriota, e nem enxergou motivos muito relevantes pra manifestar tal sentimento. Um sentimento conformista assola a população brasileira de maneira cruel e aterradora. Um conformismo talvez causado pela mínima esperança pela justiça em uma democracia disfarçada.

Porém, os últimos dias demonstraram que a condição do povo brasileiro em relação à pátria pode sofrer sérias mudanças. E mudanças boas, muito boas.

Tudo começou com o governo paulista em sua decisão de elevar o preço da tarifa do transporte público em 20 centavos. Os paulistas não toleraram, já que se trata de um reajuste injustificado perante a quantidade de impostos já paga mensalmente.

Este foi o estopim para uma explosão de protestos e manifestações por todo o país. Começou pelos 20 centavos, e tudo se converteu para uma luta contra a repressão violenta das autoridades, pelo cumprimento da vontade do povo como eleitores e reguladores da democracia que somos, e pela justiça a que temos direito.

O protesto começou nesta semana, e perdura até hoje. Estes poucos dias foram os dias em que mais se viu o brasileiro exigindo que seus representantes efetivamente o representem, tomando decisões pelo povo, para o povo. Foram os dias em que eu vi o brasileiro deixar de ser conformista, pelo menos por alguns instantes, e se levantar contra o que está errado.

Claro que em favor dessa causa, muita confusão foi causada e um ambiente semelhante a uma guerra civil tomou parte nas ruas da cidade de São Paulo, muitos falsos manifestantes se misturaram entre os ativistas de fato e incitaram policiais contra o movimento que era originalmente pacífico, mas que foi duramente reprimido por contra das provocações destes infiltrados. Isso, felizmente, não foi o suficiente para que os manifestantes, os verdadeiros manifestantes, baixassem a guarda.

Os ânimos então se exaltaram de tal maneira que o assunto mais comentado no dia de hoje foi apenas esse, redes sociais se inundaram com manifestações patrióticas de todos as cores e formatos, e a mídia, apesar de ineficiente e nunca imparcial, também fez seu papel divulgando os eventos ocorridos.

Isto pode ser sido apenas um lampejo de patriotismo latente no coração dos brasileiros, mas tomemos isso como um exemplo. É possível sentir que o conformismo tem seus limites, e tende a desaparecer se o povo se tornar patriota o suficiente. Claro que não estamos falando de um povo como o americano, que é patriota ao extremo, chegando inclusive a irritar por conta de seu excesso de nacionalismo, mas necessitamos muito de um sentimento nacionalista para que as coisas funcionem bem por aqui.

O futuro do país depende do quanto fizermos esse sentimento durar. Desde que somos um Estado democrático, a vontade da maioria é a lei, e portanto temos o poder, assegurado por lei, de alterar o que está errado, se assim quisermos. Não se trata de um anarquismo, mas se elegemos alguém para nosso governo, devemos exigir deste alguém o cumprimento de nossa vontade.

Hoje vimos o Brasil parar por uma causa que não é copa do mundo, carnaval, ou big brother, mas por uma causa que nos incomoda há vários e vários anos: a indiferença em relação ao povo. Só o que todos esses movimentos demandam é justiça, nada mais. Se pagamos impostos, temos que ser compensados por isso de uma forma ou de outra.

Quero acreditar que o patriotismo sempre existiu nos corações dos brasileiros, e que hoje ele finalmente despertou, não para voltar a adormecer quando os ânimos se acalmarem, mas para permanecer como a coluna vertebral que sustenta o país. Posso estar pensando de maneira demasiado utópica, mas de que outra maneira o Brasil atingirá o progresso sem um povo patriota?

Que tudo isso que vimos nesses protestos não seja apenas passageiro, mas que lembremos destes eventos como um marco, um divisor de águas na História do Brasil, e de seu povo.