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sexta-feira, 28 de junho de 2013

[Crítica] Zeitgeist sexual perpétuo

Ultimamente tenho me deparado com um tema que é bem longínquo e delicado... e que está, de certa, forma arraigado profundamente no pensamento da maioria das pessoas.
Não pense que está nesta condição de forma boa. O contrário. O aspecto que este tema possui é quase unanimemente negativo... daí que vem a minha relutância e até um pouco de receio de tratá-lo. Mas após inúmeras vezes eu me deparar com o mesmo (direta e indiretamente) através dos meses eu vi que não tem como ‘fugir’. Eu tenho que me ‘pronunciar’.

O assunto em questão é até um pouco difícil de se nomear diretamente. Vou tentar especificar do que estou tratando... estou tratando de ser vadia. Sim, irei “adjetivar” desta forma.
A princípio parece não ter muito sentido, não? Pois bem... quero discorrer sobre o que é ser vadia; como ser vadia; a forma como ser vadia é encarada, de forma ampla, pela sociedade, etc.
[Fica aqui explícito algumas coisas: i-estou tratando da ‘vadiagem’ no sentido lascivo ao qual a palavra foi atribuída; ii-apesar de eu majoritariamente usar a palavra em seu feminino... fica claro que estou empregando para todos os gêneros de pessoas. Você vai entender o motivo disto.]

De forma não extraordinária podemos ver com frequência pessoas, mulheres sendo tachadas ou julgadas pela forma que se vestem, que andam, que modificam seu corpo, que agem. O pensamento se dá ao passo de que um comportamento e/ou traço físico “destoante” esteja presente no personagem do sexo feminino. Característica essa que mesmo minimamente pode ser fortuita para o cochicho e malograr alheio... sem sequer ao menos conhecer-se ou até falar com a pessoa em questão. Agora você pode argumentar comigo: “Isto é da natureza humana! Todo mundo gosta de uma fofoca”. Verdade. O que não torna certo. E apesar deste argumento parecer convincente, ele é fraco.
Não estou querendo ser O feminista, muito pelo contrário... todavia é de pleno conhecimento de que as mulheres são infinitamente mais alvos de julgamentos estéticos e comportamentais do que o homem. Principalmente quando este último se refere a sexo ou sexualidade.

Aí que a coisa começa a tomar forma na minha crítica...
Algo que não compreendo é por que uma mulher que fala abertamente de sexo ou de temas sexuais é considerada PRONTAMENTE de ser vulgar, sem valor, vã, vadia...? Quatro “vês”. Nenhum sentido.
Mais ainda, por que uma mulher que se veste com roupas curtas e que destacam e/ou deixam mais a amostra seios, bunda é considerada vagabunda? Pois bem... vamos voltar um pouquinho.

Na maior parte da cultura mundial (principalmente a do Ocidente, salvo indígenas.) a mulher que se expõe fisicamente é considerada vulgar e sem demora associada com uma prostituta. Sei que serei retaliado por muitos que lerem isto, porém... qual é a da associação imediata?
Eu tenho plena consciência do que se expor ou mostrar sua nudez1 tem em relação com ser prostituta. A lógica de que mostrar partes consideradas de cunho sexual = quer se vender (ou atiçar). Ok, isso faz sentido... NESTE campo. No caso da profissão da prostituta. O corpo dela é a ferramenta de trabalho, logo, a mesma tem que mostrar seu corpo e valorizar o mesmo para ‘vender’.
Legal. Mas e o resto? Qual a razão do julgamento e assimilações com prostitutas de mulheres que simplesmente quiseram mostrar mais seu corpo com ou sem propósito imediato E QUE NÃO SÃO PROSTITUTAS?
Sério... o fato de uma pessoa querer exacerbar, focar ou enfatizar certas partes do seu corpo não é, em minha humilde opinião, nenhum tipo de falta, de natureza ruim ou muito menos modo de agir de uma prostituta. É simples... vontade. Claro que existem motivos. Sempre há. Do contrário não teria sentindo nenhum fazer qualquer coisa. O que não compreendo é esta forma compulsória com a qual as pessoas julgam e muito além disto... a razão pela qual tal coisa é atribuída um caráter ruim!

Perdoem a minha revolta sem ser claro... é difícil entender e assimilar o modo de pensar unilateral  que este assunto possui. Para mim é absurdo e totalmente sem sentido julgar de forma ATERRADORA uma pessoa que queira expor-se fisicamente2. AINDA que a mesma seja uma profissional do sexo.
Em ambos os casos é de inteira responsabilidade e vontade da pessoa se expor. Contanto que não afete diretamente outras. Ilógico e até injusto é querer privar ou querer ditar como alguém deva se vestir ou pior... agir.

Deixe-me recondensar o pensamento supracitado.
A sociedade trata de forma quase sempre negativa pessoas (com um foco maior em mulheres) que tratam de sexo sem pudores ou tabus. Mesmo o sexo sendo um aspecto TOTALMENTE natural. Fazendo uma equivalência de que a pessoa que fala em demasia, se expõe ou até a que gosta de tal assunto é uma pessoa que vende seu corpo... uma prostituta. Diga-me, QUEM não será um prostituto então? Com exceção das pessoas assexuadas ou frígidas, quem caralhos não gosta de sexo? Você vê? Por esta lógica gostar de sexo já te torna um profissional do sexo... pois se uma pessoa que admite abertamente que gosta de sexo é uma vadia, então por que alguém que gosta e não admite abertamente (ou não declama) não seria?
Não faz sentido. É ilógico e para não falar anti-natural...

Por si só o argumento acima já invalida a associação ruim com ser vadia. Porém dá para cavar mais fundo.

Não é invenção minha que as mulheres são tratadas com mais rigor neste quesito (no quesito insensato de auto-repressão da sexualidade). A mulher é desde criança mais cobrada sobre a exposição, forma de agir, forma de se vestir, como brincar, como falar, como andar, como comer, como viver! O “perfil de uma mulher ideal” embasado pela falsidade e inconsistência descarada é de uma menina “bonita”, que se depila, tem cabelos médios e tratados (não pode ser uma bagunça!), é tímida de forma moderada, não usa muita maquiagem, é educada e cortês, usa roupas longas, mas não em excesso (roupas que cubram 65% da pele, numa conta aproximada), fala baixo e coordenadamente, não bebe em excesso, não tem tatuagens, não fuma, não anda sozinha, estuda, vive com a família (e têm ambos os pais), heterossexual, não intrujona, sincera e em praticamente NENHUMA HIPÓTESE pode falar de sexo (mas estranhamente pode fazer). Isto para citar ALGUNS.
Se você for pegar e analisar este perfil... ele é totalmente arbitrário e obsoleto. Agora se surpreenda: ele é usado com muita fidelidade ainda hoje. Qualquer mulher que destoe de algum aspecto desses (e até de outros que não citei) já é encarada, pelo menos por uma parte das pessoas, com outros olhos. Por quê? Qual a causa, motivo, razão ou circunstância que faz o diferimento de um ÚNICO aspecto tornar uma pessoa... ruim? Isto é bem similar ao que eu falei em outro texto... aonde o fato de alguém não ser “bonito” tem o poder de invalidar várias outras coisas favoráveis de um ser humano. É idiota e totalmente vão tal julgamento ou acepção.
Quer ter suas preferências? Não gosta de pessoas com tatuagens? Legal! Perfeito! Esta é SUA E SOMENTE SUA opinião e você tem todo o direito de tê-la. Agora me diga qual é o propósito de ATIVAMENTE condenar e querer tornar errado quem age ou difere da forma que você encara o mundo? Você é o único que tem a razão neste planeta? Você é dono da verdade? Se o que você segue ou declara como o certo é tão real por que seu pleito é subjetivo desta forma?  Insano...

A falta de coerência neste discurso de “tachar de vadia” quem é ou age de certa forma é tão besta que me sinto envergonhado de sequer aceitar que existe pessoas que o fazem.

E o que é ruim, consegue ficar pior. O fato de tal termo ser empregado com maior tendência para mulheres às vezes exclusivisa-o. Como se isso fosse bom...
O que quero dizer é que a presunção e audácia de algumas pessoas é tão grande que elas chegam a atribuir o caráter ruim de ‘vadiagem’ unicamente ao sexo feminino.
Exemplo: um homem falando ou admitindo que se masturba é comum e normal (o que de fato é independente de gênero); uma mulher falando ou admitindo que se masturba é uma vagabunda, safada, piranhinha, tá na seca, etc. POR QUÊ? Me explica porque minha mente “muito atrasada” não consegue entender a diferença, champz.
A gota d’água para eu fazer este texto foi justamente uma destas assimilações incoerentes. Era um vídeo que mostrava um casal de jovens fazendo sexo. Sextape comum entre zilhares que existem na internet. Não interessa (para o texto) o contexto do vídeo. O que me deixa perplexo é o fato de na legenda estar escrito “olha só a vagabunda! Ao invés de estudar tá dando”. Eu me pergunto (para os simples efeitos sem sentido de julgamentos da pessoa que postou esta legenda) se ela não viu ou esqueceu que... QUE TINHA UMA PESSOA DO SEXO MASCULINO TAMBÉM. E analisemos... o que tem de errado em fazer sexo? Não tinha nada, NADA de anormal, ilegal ou injusto no vídeo. Havia duas pessoas fazendo sexo, só isso. Mas a pessoa que legendou fez questão de reverter uma culpabilidade inexistente para a menina. Acho que já fui exaustivamente claro no que quis dizer, não?

E olha... mesmo que alguém queira agir de forma ‘vadia’. Mesmo que alguém queira ser “promíscuo” e queira fazer sexo com pessoas diferentes sem nenhum tipo de compromisso ou até queira fazer sexo com várias pessoas ao mesmo tempo ou por que não com pessoas do mesmo e de gênero diferente ou ainda que goste e admita que toca siririca, qual o problema nisto? Isto só diz respeito à pessoa ou pessoas envolvidas naquilo. Não é porque VOCÊ considera ter mais de um parceiro sexual como errado que fazer isso seja errado. Até onde sei você não tem poder de um deus para estabelecer o que é certo ou errado.
A única situação em que a forma ‘vadia’ de agir me é ruim é quando alguém vai ou saiu prejudicado física ou emocionalmente... e mesmo assim isto pode ser relativo.

Eu penso que o ser humano é um pouco “mais pior” por encarar coisas tão pequenas e naturais como esta de forma negativa e hipócrita. Algo nato como a sexualidade e características sexuais e comportamentais (pessoais) serem repreendidas ativamente só faz com que aja mais disparidade pelo mundo a fora... e isto contribui com um passo a mais na já grande distância que existem nas diferenças humanas. 





1-A qual por sinal acho uma tremenda besteira existir o tabu que existe ao redor da mesma. Isto é assunto para outro texto.
2-Até o permitido dentro da lei ou bom senso. Não estou sendo hipócrita. Estou sendo sensato para com infantes e seres humanos que não entendem de forma total a nudez e/ou o sexualidade.

Um comentário:

  1. Acho que posso resumir a torrente de pensamentos que me surgiram durante a leitura pra salvar tempo. Nós criamos, em algum tempo, um padrão de aparência, modos e shit. Fugir, nem que seja um pouco, é errado para a sociedade. Eu não vou dizer que cada pessoa deve ser feliz do jeito que ela achar melhor, porque além de o jeito de alguns ir contra leis e regras, o meu eu hipócrita vai achar ruim por fugir do tal padrão. Basicamente, não temos jeito. Como disseste no começo do texto, é a natureza humana.

    Meus dois centavos de tudo isso: Não interessa o gênero, as pessoas que não têm muito a oferecer vêem seu físico como "seu produto", e põem isso à mostra. Sociedade machista que somos, não importa muito ver um homem sem camisa andar por aí. Por isso alguns (como eu) não olham com bons olhos mulheres que parecem usar uma blusa como vestido. E por o produto de um(a) profissional do sexo ser seu físico, as pessoas (novamente, eu incluso) associam uma coisa com a outra - A mulher que usa uma calcinha jeans só difere da prostituta por não cobrar pelo ato sexual. Novamente, é a natureza humana ser hipócrita e viver dentro de padrões. Não temos jeito.

    Não sei onde enfiar isso, mas: Lembro que um professor meu disse que se mandássemos a mais bonita modelo da Terra para um outro povo, eles provavelmente a achariam feia, pois o padrão deles é outro. Pra eles, nas palavras desse meu professor, "é bonito não uma Ana Paula Arósio, mas uma mulher baixinha, cabeçuda, cinza e de olhos pretos grandes".

    Perdoe a incoerência, a hora em que o comentário foi originalmente escrito no Facebook não colaborou muito.

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