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terça-feira, 21 de maio de 2013

[Reflexão] Não tenho tempo pra isso!


Uma das maiores ambições do ser humano é aprender a resistir ao tempo, reverter suas consequências, e superar a influência que os diversos ciclos finitos de nossas vidas produzem na nossa essência.

Muitas esperanças são colocadas em cima de invenções como a máquina do tempo, de H. G. Wells, e muito se espera pelas possibilidades de uma inovação tecnológica deste nível. Poder retornar ao passado, e voltar a viver os melhores dias de nossas vidas, com os nossos entes queridos que já se foram no futuro e com corpo e mente jovens e novamente prontos para uma volta às origens, estas são algumas razões que guiam o homem a lutar contra o tempo.

A imortalidade sempre foi muito cultuada por todas as raças humanas no planeta, com religiões e deuses antropomórficos representando a vida após a morte numa analogia semelhante à busca pela vida eterna no plano terreno. A Ciência se esforça muito para, pelo menos, tentar retardar os efeitos do tempo sobre o corpo humano, tentando elevar nossas expectativas de vida à exaustão, inclusive estudando a possibilidade da conservação de corpos vivos em câmaras gélidas, para que assim possam resistir a desastres naturais e/ou artificiais. É uma ambição que se reflete na cultura popular: filmes, livros, jogos...todos tentam apresentar abordagens de futuros distantes onde a humanidade aprendeu a ignorar o tempo.

Implantes mecânicos, com duralibilidades maiores e maior possibilidade de substituição, mecanização da carne...uma idéia muito discutida nas obras de ficção, onde humanos se tornam máquinas para se constituirem como seres virtualmente imortais. Imunidade, ou pelo menos uma maior resistência, aos danos causados pelos nossos "predadores" mais perigosos, os vírus, é também um tema frequentemente pesquisado.

E tudo isso, para quê? Para nos distanciar do fim de todas as coisas, travando uma batalha interminável contra uma variável absoluta que nunca, pelo menos em teoria, pode ser contrariada: o tempo. Tudo tem o seu tempo de existência. Momentos e vidas são espaços de tempo de tamanhos diferentes, mas que seguem a mesma regra: cada segundo é valioso e único.

Não vejo muito nexo nessa tal "luta contra o tempo", sendo que o tempo existe para ser aproveitado, não como um motivo para lutar. Somos apresentados a instantes únicos em nossas vidas, e não adianta tentar competir contra o tempo pra poder recobrar a chance de usufruir do que já passou e, portanto, não tem mais valor.

Temos capacidade suficiente para armazenar memórias de longos períodos de nossas existência, e por isso essa luta incessante contra o tempo não tem muito fundamento. Ciclos devem iniciar, progredir, e então terminar. Negar a existência do tempo é romper o sentido de um ciclo. A vida surgiu a partir de um ciclo, as variações climáticas surgiram a partir de um ciclo, a humanidade passa por um ciclo para atingir sua plenitude.

Eu sinceramente não sei se a sensação de voltar a viver os momentos mais felizes de minha infância seria tão boa hoje como foi no passado. Ou que voltar a ter perto de mim os entes queridos que me deixaram me deixaria feliz. Ou então que eu pudesse ter as mesmas chances que tive no passado, e pudesse aprovetá-las melhor. Claro que seria bom poder ter tudo isso de volta, mas isso tudo teria o mesmo valor, lhe daria o mesmo prazer?

Acredito que vivemos para reciclar o passado, e, baseado nisso, construir o futuro, usando assim o tempo a nosso favor. Uma vida longa, ou uma vida sem fim, ou a oportunidade de reviver o passado, nos daria muito mais prazer do que nossa simplória, limitada e estática vida de hoje pode nos dar? Eu tenho minhas dúvidas...

Um comentário:

  1. Um grande texto seu, Daniel. Eu penso da mesma forma.
    Apesar de algumas vezes nos bater aquele sentimento de 'será que se eu pudesse voltar eu faria melhor?' Pessoalmente eu creio que não. Não seria melhor nem pior numa forma geral... seria simplesmente aquele caminho... aquele "universo".

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