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sexta-feira, 24 de maio de 2013

[Opinião] "Conhece-te a ti mesmo"

 

Muitas citações culturais da Grécia antiga marcaram e influenciaram a história, a filosofia e os próprios princípios de vida durante séculos a fio. A escola de pensamento surgiu lá, e seguiu-se, baseando-se principalmente nas idéias de seus principais pensadores, toda a estrutura da filosofia, até os tempos modernos e contemporâneos. Porém, talvez a mais conhecida parte dessa herança seja a famosa inscrição no pátio dos oráculos da cidade de Delfos. Os oráculos eram conhecidos por possuir um saber acima da compreensão humana. Podiam eles entrar em contato direto com os deuses e suas vontades.

Com sua sabedoria, influenciavam até mesmo as decisões políticas mais importantes da época; Porém sua contribuição foi muito além desses princípios metafísicos ao quais se baseavam. Até o mais leigo dos estudantes provavelmente já se deparou com a frase “Conhece-te a ti mesmo”, citação que simplificava e mesmo assim, mantém a essência de toda a doutrina em que os oráculos se baseavam. “é o princípio de toda a sabedoria” – Ela se completava. Tão profundo quanto qualquer ensinamento metafísico que os oráculos podiam oferecer, a frase está sobrecarregada de sublimes ensinamentos, espelhando desde a filosofia platônica até mesmo até a angústia existencialista, de tamanha sua abordagem sobre a existência e nossa capacidade de sermos, como seres pensantes, conhecedores do mundo.

Angústia porque, ora, de todas as indefinições do ser humano, de todas as crises que inevitavelmente passará, durante o correr de seus anos, sejam financeiras, familiares, profissionais, talvez a maior, que abrange o mais extenso território nas crises humanas, seja a existencial. Nascemos e não muito posteriormente, nos entendemos como humanos e, com isso, partimos a inevitável busca pelo passado, pelo futuro, pelo presente. De onde viemos? Para onde vamos? Por que estamos realmente aqui? Todas essas perguntas podem facilmente ser reescritas através de uma, apenas: Quem somos nós? Estamos presos em nossa essência humana, tão distantes dessa resposta que, se nem somos capazes de nos conhecer, quem dirá conhecer o mundo?

E se os oráculos de Delfos consideravam realmente que o autoconhecimento é apenas o princípio da sabedoria, e esse mesmo princípio se mostra a nós como um conceito tão utópico, tão inalcançável que jamais fomos capaz de transpô-lo, estamos então presos dentro de nossa própria essência, nos limitando a permanecer indeterminadamente fracassados no primeiro degrau da longa escada da sabedoria. Talvez a fenomenologia nos explique: Antes de compreendermos a coisa em si, temos de sê-la. Porém mesmo sendo-nos, a coisa em si permanece inalcançável.

Sócrates representava todo esse exercício muito bem ao afirmar a não menos conhecida citação: “Só sei que nada sei”. Tomo liberdade para modificar duas letras apenas, e torná-la mais presente na nossa dissertação: “Só sei que nada sou”. Nada tenho sobre mim a não ser que existo, e posterior a isso, apenas tenho de plausível o que criei. Inventamos-nos o que não somos para suprimir o vazio da ignorância a cerca de nós mesmos. Sou apenas minha mais complexa criação, dentre tantas outras mentiras.

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