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quinta-feira, 18 de julho de 2013

[Reflexão] Sabedoria galáctica aplicada à realidade terrestre



Star Wars é, para mim pelo menos, a melhor série de ficção já escrita, e uma das maiores séries de filmes já feitas. Claro que não estou me limitando somente aos filmes e outras mídias do gênero, mas também aos livros e gibis, do universo expandido. Retratando conflitos entre várias facções em uma galáxia politicamente organizada, a história apresenta diversos conceitos: a Força, as manobras políticas, o bem e o mal, etc.

É aí que está a graça da série, nesses conceitos misturados à temática futurista. Muitos desses conceitos são reflexos de idéias obviamente existentes no nosso mundo real menos tecnológico, mas igualmente repleto de conflitos sociais e tramas complexas
pela conquista de poder.

Através deste post, proponho uma discussão sobre estes conceitos apresentados como pano de fundo da série. Comentem e discutam.

Jedi e Sith



Membros de facções rivais, Jedi e Sith são seres vivos que conseguem tirar proveito da Força de maneira excepcionalmente diferente dos demais, utilizando-a principalmente em suas batalhas. Enquanto os Jedi são guerreiros honrados e que nunca atacam primeiro, os Sith são vistos como traiçoeiros e maquiavélicos. Porém, a série nos mostra que o bem nem sempre é realmente o bem, e o mal nem sempre realmente é o mal, sendo uma questão dependente de um dado ponto de vista.


Em uma cena de Revenge of the Sith, Anakin e Palpatine estão assistindo a um espétaculo, e no meio da conversa, Palpatine questiona Anakin sobre o fato do poder ser uma característica volátil, e que mesmo os Jedi tem medo de perdê-lo, ao que Anakin responde: "The jedi use their power for good.".





 

Em resposta, Palpatine diz: "Good is a point of view, Anakin. The Sith and the Jedi are similar in almost every way, including their quest for greater power.".

E isso faz sentido, afinal, qual é o ápice do treinamento de um cavaleiro que quer se tornar um mestre Jedi? Enfrentar um Lord Sith, e trazer sua cabeça da batalha. O mesmo se diz sobre um aprendiz Sith. Ambos buscam o poder e o máximo conhecimento sobre a Força, visando configurar uma força maior que seus inimigos. Sith e Jedi representam forças opostas que lutam por aquilo que eles acreditam ser o bem da galáxia, os Jedi querem manter uma paz armada, enquanto que os Sith querem tomar o controle de maneira compulsória. Se nos limitarmos a somente um ponto de vista, teremos somente essa interpretação, mas e se analisarmos outros pontos, por exemplo, o fato de os Jedi executarem inimigos que consideram perigosos (como Mace Windu teria feito, se não tivesse sido impedido por Anakin), ou o fato de os Jedi estarem em número assustadoramente grande e por isso representarem uma ameaça caso um dia saíssem de controle, ou ainda o fato de que o Conselho Jedi poderia de fato elaborar manobras políticas para manutenir a galáxia de maneira que a Ordem Jedi nunca perdesse força. Se tomarmos esta interpretação como verdadeira, então os Sith, sempre em menores números que seus inimigos, estavam sempre tentando evitar o crescimento e o monopólio da Ordem Jedi sobre a galáxia, e portanto, seriam os injustiçados mocinhos da história. São diversos pontos a se pensar.

A idéia de que o bem e o mal são características relativas é semelhante ao conceito de verdade e mentira: não existe um valor absoluto para nenhuma delas, deve haver um ponto de vista para se fazer tal julgamento, do contrário não existem fatos.


A Força


Na série, a Força é uma entidade onipresente, que controla com sua influência todas as criaturas vivas no universo. Tanto os Sith quanto os Jedi a utilizam para auxiliá-los em seus interesses, e seu potencial na mão de um guerreiro preparado para utilizá-la é praticamente infinito.

A Força, na vida real, poderia se assemelhar a isso (que não sabemos o que é, nem como se chama) que mantém o complexo sistema de manutenção da vida em nosso planeta. Alguns chamam isso simplesmente de "natureza", outros atribuem características divinas a tal entidade, outros simplesmente consideram que é um sistema que sempre funcionou, e somente se adapta às mudanças necessárias. O fato é que, no universo de Star Wars, os usuários da Força sabem como esse sistema funciona, como a Força faz para manter a vida na galáxia e em todo o universo, e, obviamente, lhe deram um nome para fácil referência, algo que na vida real ainda não sabemos definir nem mesmo com palavras.

Uma analogia interessante, julgo.



Aceitação passiva de um sistema opressor






"This is how liberty ends. W
ith thunderous applause". Esta frase dita por Padmé define em poucas palavras como a República se tornou, com o total consentimento e aprovação de seus membros, o primeiro Império Galáctico. Com a chegada do Império, um sistema de poder centralizado na figura do Imperador foi efetivamente implantado, no qual os sistemas estelares seriam mantidos dentro das leis através do medo, não através do necessidade de obedecê-las pelo bem da ordem na galáxia.

Através de armamentos com capacidade para destruir planetas inteiros e gigantescos exércitos prontos para lutar até a morte em nome do Império, o Imperador comandou com mãos de ferro o seu regime totalitário e opressor.

Mas isso tudo não veio simplesmente à cabeça de Palpatine. Da República ao Império, Palpatine sabiamente arquitetou manobras políticas (incitando conflitos que facilitaram sua ascensão como Chanceler) para ocupar posições-chave no governo galáctico, para então, com o poder suficiente nas mãos, reorganizar a República, varrer a galáxia de seus inimigos, e trazer uma suposta ordem a ela.




Os sistemas estelares da República se oporam a esse novo formato de governo? Não, o receberam calorosamente (pelo menos a maioria deles), sem saber o que viria a se tornar no futuro.

Curiosamente, o regime de governo mais famoso por sua catecterística totalitarista, que caçava seus inimigos até a morte, surgiu e se estabeleceu exatamente assim. Falo do nazismo. Hitler soube tirar proveito de sua crescente popularidade para, de soldado do exército alemão a chanceler, acumular a quantidade máxima de poder nas mãos por meio de manobras políticas em seu partido nazista.

Palpatine e Hitler são muito semelhantes entre si, ambos foram grandes estrategistas, que souberam direcionar adequadamente a opinião pública usando a confiança da sua imagem perante o povo.





Basicamente, os sistemas estelares foram levado a acreditar que um governo totalitário era a solução contra os problemas da democracia, e que os Jedi não eram uma força de paz, mas um grupo de "paramilitares" usando sua influência para concentrar poder que ninguém jamais questionaria. E assim foi. Com estrondosos aplausos, Palpatine oficialmente converteu o governo democrático galáctico em uma ditadura, eliminando seus principais inimigos através da Ordem 66 (que exterminou 99% dos Jedi existentes na galáxia), e estabelecendo a paz e a ordem das quais a população tanto precisava. A confiança no imperador possibilitou que ele recebesse o poder do qual precisava, confiança esta que foi suficiente até mesmo para enganar e manipular o conselho Jedi.

Uma importante mensagem pode ser tirada disso: jamais um indivíduo, facção, partido político, etc, deve concentrar sozinho todos os poderes existentes em um governo, do contrário poderemos ver essa situação acontecendo novamente, e sabemos que governos totalitários já levaram grandes nações à ruína.


De guerreiro honrado a assassino cruel e calculista




Personagem icônico do cinema, Anakin Skywalker é um dos guerreiros na série que teve a oportunidade de provar os dois lados da moeda. Inicialmente, sob a tutela de um (não tão) sábio cavaleiro Jedi, Obi-wan Kenobi, lutou como Jedi em serviço da justiça. Diversas desilusões traçaram seu caminho ao lado sombrio até se tornar Darth Vader, um dos guerreiros Sith mais temidos da galáxia.

Sua vida quando criança não era das melhores. Ele e sua mãe eram escravos em Tatooine, e ao ser libertado por Qui-gon Jinn, teve de deixar sua mãe pra trás em favor de seu treinamento para se tornar um Jedi. Posteriormente, se apaixonou por Padmé, em uma posição que não seria bem vista pela sociedade.

Sua ligação afetiva com seus entes queridos foi uma de suas principais fraquezas, que Palpatine soube sabiamente explorar. Esta é alias uma das estratégias favoritas dos grandes vilões do cinema, a batalha psicológica. Anakin viu sua mãe morrer nas mãos do povo da areia, e foi este o momento em que ele sentiu ódio pela primeira vez, ódio que serviu como passo inicial para Palpatine convencer Anakin de que o poder é tudo o que importa. Com medo de que isso se repetisse com Padmé, e buscando o poder do imperador, que afirmava ter o conhecimento necessário que poderia salvar seus entes queridos, acaba se tornando seu aprendiz e jogando fora todos os seus ideais originais como Jedi.





 

É bom lembrar que Obi-wan começou a treinar Anakin quando ainda era um aprendiz de Qui-gon, não era nem mesmo um cavaleiro Jedi. Obi-wan não tinha o conhecimento suficiente para sabiamente direcionar Anakin em seu treinamento como Jedi. Se Qui-gon tivesse sobrevivido na luta contra Darth Maul, certamente saberia treinar Anakin e levá-lo para o caminho certo. Obi-wan não foi capaz de manter o legado de seu mestre, e no final das contas, não conseguiu ensinar Anakin a limpar sua mente de perguntas.




Com a mente cheia de dúvidas e incertezas, Palpatine viu o caminho livre para trazer Anakin ao seu lado, tornando-o Darth Vader, seu braço direito na conquista da galáxia através de seu Império.

Foram as fraquezas emocionais que tornaram Anakin um soldado frio e cruel, mas mesmo no final, ele foi capaz de ceder ao controle do Imperador, destruindo-o para salvar seu filho, e voltar a ser, pelo menos por alguns instantes, um guerreiro honrado que um dia foi.

O que se pode tirar disso é que o altruísmo é importante, mas devemos agir segundo aquilo que acreditamos, sendo egoístas mesmo. Anakin foi facilmente manipulado e corrompido por ser exatamente tão altruísta, se preocupar tanto com as pessoas ao seu redor. Isso é um erro, pois acabamos nos esquecendo de nós mesmos, dos nossos próprios interesses.




Enfim, interessante refletir tendo como base temas da ficção, mas a grande verdade é que a ficção é a realidade em outro formato.

Espero que tenham gostado. Cometem, questionem e discutam!

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